quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Independência e Vulvovaginites


Crianças que chegam aos três anos de idade costumam demonstrar independência. Querem comer sozinhas, escolhem suas roupas, já conseguem tirar a roupa e, algumas, até conseguem se vestir.
As escolas costumam incentivar bastante este comportamento, permitindo que sejam autônomas em praticamente tudo o que é possível e está ao alcance das crianças. Isto é exposto aos pais e incentivado para que seja seguido em casa.
Porém, há um aspecto que considero muito importante no que se refere à diferença entre autonomia e maturidade para exercê-la. Este aspecto pode ser exemplificado quando se trata da higiene pessoal. Crianças de três anos de idade não têm maturidade para saber a importância do cuidado pessoal, principalmente quando utilizam o banheiro. Isto acaba aparecendo demais quando falamos de meninas. Ao usarem o banheiro, mesmo que seja só para fazer xixi, muitas não usam o papel higiênico e simplesmente não se secam. Outras, fazem um “bolinho” de papel higiênico e se secam externamente, mantendo urina em contato com a região interna dos genitais. Isto frequentemente acaba irritando a mucosa genital e causando uma vulvovaginite, com ardor e, algumas vezes, a presença de corrimento amarelado. Alguns casos chegam até mesmo a evoluir com infecções urinárias.
Muitas escolas liberam as crianças para irem ao banheiro sozinhas, quando pedem para fazer xixi. Fazem isto em nome da independência, ou pelo menos é o que alegam, para justificar a falta de uma auxiliar para ajudar a criança a manter a higiene nesta hora. Minimizam o fato de ser “só xixi”, como se isto não causasse incômodo, irritação local e até infecções.
Se você tem uma menina na escola, com idade entre três e quatro anos, fique atenta para a região genital. Examine frequentemente e não tenha pudores em conversar com a escola e solicitar que uma auxiliar acompanhe sua filha sempre que ela for ao banheiro, independente do que ela for fazer. Isto, com certeza, irá evitar uma boa parte das vulvovaginites que se observam nesta idade, poupando a criança do incômodo causado pela inflamação local e de uma possível infecção urinária.
Independência sim, mas com responsabilidade.





segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Amamentação: querer ou poder?


Os benefícios da amamentação são indiscutíveis. Nos nossos dias, a informação corre de forma rápida e abrangente, atingindo a grande parte das pessoas. Campanhas a favor da amamentação, com formadores de opinião mostrando sua própria experiência agregam mais e mais valor ao ato de amamentar, influenciando as mais diversas camadas da sociedade. Desta forma, conseguiu-se reverter de forma muito positiva a vontade das mães em darem leite materno, vontade que na década de 60 havia sido bombardeada pela indústria de leite em pó, as chamadas fórmulas lácteas. As mães ofereciam a mamadeira com a plena convicção de que o leite em pó substituiria com vantagem seu leite. Além disto, com a digestão mais difícil deste leite, os bebês dormiam mais e tudo se resolvia mais facilmente.
Em um país pobre, em que muitas vezes não se consegue garantir alimentação plena no primeiro ano de vida, os bebês acabaram ficando sem o leite materno e sem a fórmula láctea. Resultado disto: desnutrição. Alguns eram amamentados com leite de vaca in natura, o que hoje sabemos ser totalmente inadequado para o desenvolvimento cerebral dos bebês. Enfim, o leite materno acabou sendo substituído com muitas desvantagens para os bebês.
Após muito esforço de autoridades e governo, hoje temos consciência de que o leite materno é insubstituível, além de estar disponível sem custo algum para o bebê. Hoje há consciência plena das mães sobre isto, o que se pode observar no consultório, quando as mães chegam muito motivadas a amamentar seus bebês com leite materno.
Porém, mãe e filho compõem um binômio, ambos com suas próprias características. Desta forma, uma mãe pode ter um bebê que nasce com 4 kg, com uma fome de leão, e ter uma quantidade de leite que seria suficiente para um bebê de 3 kg, por exemplo. O que vai acontecer? O bebê de 4 kg vai ter fome e vai chorar. A mãe acha que algo está errado e se desespera, por não conseguir acalmar o bebê esfomeado, que não dorme e não deixa dormir.
Em outra situação, a mãe tem leite sobrando, seu bebê mama e dorme bem. Ainda sobra leite do outro seio. Daria para amamentar duas crianças ao mesmo tempo.
Qual seria a opinião destas mães sobre amamentação? Com certeza uma opinião bem diferente uma da outra. Quem tem leite sobrando e amamenta com facilidade, com certeza irá disseminar uma ideia de amamentação muito mais positiva e prazerosa do que aquela mãe que sofreu com um bebê faminto, querendo mamar o dia todo e não dando conta do recado. Uma mãe passará a ideia de que amamentar é querer, porém, para aquela cujo filho tem fome, não basta querer, é preciso poder, ou seja, ter leite suficiente.
Por este motivo, aconselho sempre muito cuidado às mães que iniciam a amamentação com relação às opiniões e conselhos de mães que já amamentaram. Cada uma delas se baseia em sua experiência pessoal, que é única. Tenha em mente que amamentar é muito importante para seu bebê. Tente amamentar exclusivamente com leite materno, mas leve em consideração que amamentar também é poder e não somente querer.






quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Obstrução das Vias Lacrimais

A obstrução das vias lacrimais é muito comum em bebês novinhos e algumas pessoas podem confundi-la com uma conjuntivite neonatal. Os pais geralmente observam que um dos olhos do bebê apresenta um maior lacrimejamento e fica parecendo que o bebê produz mais lágrimas em um dos olhos. Associado a este fato, pode-se observar também um acúmulo de secreção amarelada no canto interno de um dos olhos e, às vezes, nos dois olhos.





Vejam na figura onde ocorre a produção e a drenagem das lágrimas: as lágrimas são produzidas em uma glândula lacrimal que fica localizada sob a pálpebra superior. As lágrimas produzidas pela glândula escorrem sobre a superfície do olho e depois são drenadas pelas vias lacrimais que conduzem as lágrimas para a parte interna do nariz. Desta forma, ocorre a limpeza e a lubrificação contínua do globo ocular.
Alguns bebês têm as vias lacrimais estreitas, o que causa uma dificuldade na drenagem das lágrimas. Na grande maioria dos casos, o calibre das vias lacrimais aumenta com o crescimento do bebê e a obstrução se resolve até no máximo um ano de idade. Enquanto isto não acontece, a conduta é fazer massagem sobre as vias lacrimais, auxiliando a drenagem das lágrimas. Esta massagem pode ser feita com o seu dedo mínimo posicionado sobre o local do canal lacrimal, realizando movimentos circulares dez vezes em sentido horário e dez vezes em sentido anti-horário, com uma leve pressão no local, para ajudar o canal lacrimal a se afrouxar.
Em algumas situações, pode ocorrer uma infecção na secreção que se acumula no local, podendo ser necessária a utilização de um colírio de antibióticos. Raramente, quando não ocorre a resolução espontânea da obstrução, o oftalmologista realiza um procedimento para a desobstrução das vias lacrimais. A tendência dos oftalmologistas hoje em dia é aguardar , realizando massagens e tratamento clínico até um ano de idade, quando a grande maioria dos casos se resolve.






domingo, 19 de agosto de 2012

Gengivoestomatite



A gengivoestomatite é uma infecção na boca, bastante contagiosa, porém, auto-limitada, que é causada pelo vírus herpes simples tipo 1. Esta infecção é muito comum, principalmente em crianças, entre os seis meses e os cinco anos de idade. A infecção se transmite pelo contato direto entre as pessoas. O período desde o contagio até as manifestações pode se estender desde 48 horas até 10 dias. Passado este período de incubação, a criança inicia um quadro clínico acompanhado de febre elevada, presença de pequenas lesões avermelhadas e bastante dolorosas nas gengivas e na língua, além de inchaço dos lábios, mau hálito, produção excessiva e dificuldade para engolir a saliva, irritabilidade, aumento do volume dos gânglios abaixo da mandíbula, dor, sangramento na boca e recusa alimentar. Este quadro pode durar cerca de uma a duas semanas e, como consequência, pode ocorrer perda de peso, que a criança consegue recuperar rapidamente depois da melhora.
Não há uma medicação específica para se tratar gengivoestomatite. O tratamento visa manter a criança o mais confortável possível e inclui:
- Uso de antitérmicos para febre e dor (dipirona, paracetamol, ibuprofeno). Não se deve utilizar medicação que contenha ácido acetil salicílico, como AAS, Aspirina, Melhoral Infantil;
- Aplicação de líquidos antissépticos na boca e analgésicos tópicos, como géis orais que anestesiam levemente o local;
- Ingestão de líquidos, como água e sucos não cítricos para evitar a desidratação:
- Cuidados especiais com os alimentos a serem oferecidos, de preferência frios, de consistência pastosa, sem muito sal, como papas, gelatinas, sopa fria batida, frutas amassadas, lembrando que se devem evitar as frutas ácidas.
- A limpeza da boca da criança previne complicações como as infecções bacterianas, que necessitam de tratamento com antibióticos. Para isto, pode-se diluir uma solução antisséptica como Cepacol Junior, na proporção de uma colher de sopa em meio copo de água e borrifar na gengiva e na língua, após a criança se alimentar ( se engolir um pouco, não há problema). A escovação dos dentes pode ser muito difícil pois a gengiva sangra muito facilmente, devido à inflamação.
- Para prevenção, é muito importante lavar muito bem todos os brinquedos que a criança manipula e leva à boca, além de ensinar a criança a não compartilhar escovas de dente, copos, talheres e chupetas com outras crianças.
Give your child cool liquids to drink.- Para - Algumas vezes, a internação de uma criança com gengivoestomatite pode ser necessária. Como o tempo de evolução da doença pode se estender de 1 a 2 semanas, se não for possível garantir uma hidratação adequada devido à recusa da criança a aceitar líquidos, ou se houver algum fator agravante, como vômito, será necessária hidratação intravenosa com soro, em regime de internação hospitalar, até se atingir a melhora das condições clínicas da criança para prosseguir o tratamento em casa.






quinta-feira, 16 de agosto de 2012

O que mudará no calendário de vacinas do Posto



A partir de 18 de agosto, próximo sábado, o Ministério da Saúde iniciará duas mudanças no calendário de vacinas utilizado atualmente no Brasil.
As mudanças não incluem vacinas novas propriamente ditas, mas sim, mudanças nas vacinas já oferecidas.
Em primeiro lugar, a vacina contra a poliomilelite (vacina Sabin), a famosa gotinha, já incorporada pelas mães e crianças, passa a ser uma vacina injetável. A diferença é que a vacina injetável, conhecida como vacina Salk, é uma vacina inativada, ou seja, não há vírus vivos nela, ao contrário da vacina oral em gotas, que tem vírus vivos atenuados. Isto pode parecer pouco, mas não é, uma vez que existe uma chance pequena, porém não inexistente, de crianças vacinadas com as gotinhas desenvolverem a paralisia infantil através do vírus vacinal. Como esta situação tem maior risco nas primeiras doses, a princípio, o governo irá substituir as gotinhas por injeções nas doses aplicadas aos dois e aos quatro meses. Aos seis meses e aos quinze meses, as doses serão com a vacina em gotas, assim como nas campanhas.
A outra mudança que será implantada, é a aplicação da chamada vacina pentavalente. Atualmente, aos dois, quatro e seis meses, a criança recebe a vacina tetra, que imuniza contra difteria, coqueluche, tétano e haemophilus (esta última, uma bactéria causadora de meningite e pneumonia) e mais uma injeção de vacina para Hepatite B, aos dois e seis meses. A vacina pentavalente que será aplicada, juntará a Hepatite B com a tetra e será aplicada aos dois, quatro e seis meses.
Nas clínicas particulares já há uma vacina chamada pentavalente. Porém, a composição é diferente desta que será implantada pelo governo. Na vacina das clínicas entram a difteria, coqueluche, tétano, haemophilus e poliomielite inativada (Salk). Quando se associa a hepatite B, a vacina é a hexavalente. Além disto, a vacina é acelular, ou seja, não provoca reações neurológicas, que podem ocorrer com a vacina de células inteiras, oferecida na rede pública.
Não há menção nas mudanças anunciadas com relação à implantação da vacina acelular na rede pública, portanto, a vacina continua sendo a de células inteiras.
Há bastante ainda o que melhorar, mas estas mudanças são um começo. Vamos aguardar as próximas, para que o calendário do posto fique mais próximo ao das clínicas, tanto em variedade quanto em qualidade de vacinas.






terça-feira, 14 de agosto de 2012

Mel e Botulismo



O mel é um alimento com reconhecida propriedade antibiótica. Há estudos mostrando que ele melhora a gastrite, prevenindo o crescimento da bactéria Helicobacter pylori, hoje sabidamente associada ao aparecimento da gastrite e de úlceras gástricas. Além disto, é um santo remédio para a tosse seca e irritativa, como já diziam nossas avós.
Porém, todos estes benefícios só podem ser desfrutados a partir de um ano de idade. Isto, porque o mel é um alimento que pode conter esporos de uma bactéria chamada Clostridium, causadora da doença conhecida como Botulismo.
Nos adultos, a ingestão dos esporos botulínicos, na grande maioria das vezes, não causa nada, pois o sistema digestivo é suficientemente maduro para combatê-los. Porém, o mesmo não ocorre com bebês pequenos, principalmente menores de um ano, em que estes esporos chegam ao intestino e lá germinam, produzindo a toxina botulínica.
A toxina botulínica é uma das substâncias mais venenosas para o ser humano. Para se ter ideia de seu poder letal, uma quantidade de 0,0000001 mg por kilograma de peso pode paralisar a musculatura respiratória, levando à morte. Por isto, não se dá mel nem encostando a chupeta do bebê, para ele se acalmar.
O primeiro sintoma de botulismo é a prisão de ventre, ou obstipação, que pode ocorrer de três a trinta dias após a ingestão do mel contendo esporos botulínicos. A partir daí, a criança desenvolve fraqueza, prostração, falta de apetite, choro fraco. Se a doença progride, a criança vai ficando mais e mais fraquinha, chegando a nem engolir a saliva. Há perda do controle da cabeça e parada respiratória gradual ou súbita. Estas crianças necessitam de tratamento em UTI, para suporte respiratório e nutricional, até que a recuperação ocorra.
Portanto, mel só a partir de um ano de idade, pois, com certeza, prevenir o botulismo é bem mais fácil do que remediá-lo.







sábado, 11 de agosto de 2012

Pais e Filhos: brigando por uma boa causa

Neste dia dos pais, o Pediatrio homenageia estes que, algumas vezes, podem ter se sentido preteridos, colocados de lado e até ameaçados por sua própria cria. Que sentiram-se em papéis coadjuvantes em muitas ocasiões, mas que persistiram lutando e mostrando seu valor importante na família.
O vídeo abaixo (que é a propaganda de uma marca de lâmina de barbear) mostra de forma engraçada esta situação tão frequente, quando o homem passa a ser pai e, além de um herdeiro, ganha também um rival!

Feliz dia dos pais!




domingo, 5 de agosto de 2012

Bebês sobre rodas


Estima-se que as vendas anuais de andadores nos Estados Unidos cheguem a três milhões. As razões apresentadas pelos pais para utilizarem um andador são as mais diversas. Entre elas se destacam as seguintes, segundo estudos divulgados pela Academia Americana de Pediatria:
- para entreter a criança e mantê-la mais quieta
- para ajudá-la a aprender a andar mais rápido
- para dar mobilidade à criança
- para que a criança se exercite
- para prender a criança durante a alimentação
- um terço dos pais usam andadores acreditando que o andador mantém sua criança segura
- porque ganharam um andador


Por outro lado, temos as estatísticas sobre acidentes com crianças que utilizam andadores. Em 2005, a Consumer Product Safety Commission (CPSC), que fiscaliza a segurança de produtos nos Estados Unidos, reportou 3.331 crianças que receberam tratamento em Pronto-Socorro devido a acidentes com andadores. Estes acidentes foram, na sua maioria, lesões na cabeça devido a quedas. Outras lesões foram queimaduras em fornos, envenenamentos por produtos que ficaram acessíveis, prensa dos dedos dos pés e das mãos. Até mesmo afogamentos foram descritos, em crianças que alcançaram áreas livres da casa e chegaram a uma piscina, onde caíram. Isto pode acontecer em uma questão de segundos, segundo o estudo.

De acordo com a Academia Americana de Pediatria, uma criança em um andador pode se mover na velocidade de 1 metro por segundo, o que é suficiente para dificultar a atuação de uma pessoa que esteja cuidando da criança. Se estiver perto de uma escada, o prejuízo pode ser até fatal ( eu mesma vi dois casos de fratura de crânio devido a queda em escada, em crianças que estavam em andadores).

Os andadores foram banidos do Canadá em 2004 e, desde 1995 a Academia Americana de Pediatria vem insistindo junto ao governo americano para que isto também aconteça nos Estados Unidos. Em 1997 foram adotadas medidas de segurança para que os andadores pudessem ficar mais seguros. Com isto eles se tornaram maiores, para não passarem pelas portas e, alguns, foram dotados de travas, para que não andassem em terrenos irregulares, evitando quedas em degraus. Porém, 40 % dos andadores não têm estas especificações, segundo o jornal americano Injury Prevention.

Ao contrário do que muitos pais imaginam, os andadores não ajudam a criança a andar, sendo que há estudos mostrando que crianças de seis a quinze meses que utilizavam andadores, acabaram sentando, engatinhando e andando mais tarde do que aquelas que não usaram andadores.

Apesar das impressões dos pais de que as crianças parecem mais felizes quando estão nos andadores, não parece haver benefícios que justifiquem o alto risco de acidentes.
Diante destes dados e constatações, pense bem se vale a pena comprar um andador para sua criança. Se, mesmo assim, você optar por comprá-lo, tome muito cuidado, nunca deixando a criança sem supervisão, mantendo-a em terreno plano, sem degraus e longe de escadas e não permitindo que ela permaneça períodos muito longos no andador, de forma que ela se exercite e adquira a capacidade de engatinhar e andar sozinha.






Estou de volta!



Olá leitores do Pediatrio!
Estive ausente por um tempinho, como vocês devem ter percebido. Estive em San Francisco, de férias, o que me ajudou muito a recuperar fôlego para mais um semestre. As férias foram maravilhosas, pude ficar bastante com meu filho e aproveitar os muitos passeios que a cidade nos proporcionou. Foi ótimo! Estou de volta para mais posts e informação. Acompanhem!
Dra. Ivani
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