domingo, 26 de fevereiro de 2012

Cadê as botas ortopédicas?




Antigamente, e nem tão antigamente assim, viam-se crianças de shorts ou vestido curto e bota ortopédica, em pleno verão. Será que havia algo mais torturante? Mas as tais botas eram extremamente difundidas como um tratamento para problemas ortopédicos variados. E ai da criança que não as usasse... coitada! Ficaria condenada a ter pé chato para o resto da vida!

Mas, afinal, cadê as botas? Pois é, para desespero daqueles que sofreram calor nos pés durante anos, hoje em dia este tratamento praticamente desapareceu. Isto, porque com a evolução do conhecimento sobre o desenvolvimento ortopédico infantil, chegou-se à conclusão de que uma boa parte do que se acreditava serem problemas ortopédicos, na verdade, são situações normais do desenvolvimento e, usando ou não as botas ou palmilhas, não faz a mínima diferença. Sorte de quem nasceu mais recentemente.

Vou falar sobre algumas das condições ortopédicas mais comuns, que costumam preocupar os pais, mas que, na grande maioria das vezes, não representam nenhuma patologia.



Pé chato (ou pé plano)
plymouthhospitals.nhs.uk

A maioria das crianças nasce com pés planos, ou seja, os pés não possuem aquele arco interno. Isto fica mais evidente quando elas começam a andar, preocupando muitos pais. Porém, o desenvolvimento do arco plantar só se completa entre três e dez anos de idade, aproximadamente, e, algumas vezes, isto pode nem ocorrer. Por isto há adultos com pés planos, o que não deixa de ser apenas uma variação do formato dos pés.

Não se recomenda nenhum tratamento para esta condição, a menos que haja dor, o que é raro. Uma criança com pés planos não cai mais do que as outras e não tem nenhuma restrição para a prática esportiva. Se houver dor, aí sim, é necessária a avaliação de um ortopedista.


Andar na ponta dos pés
embarrassingbodieskids.channel4.com 

Algumas crianças, quando começam a andar, frequentemente o fazem na ponta dos pés, várias vezes ao dia. Isto é normal até a idade de dois anos, mais ou menos. Ou seja, por volta desta idade, essas crianças já param com este hábito.

Se sua criança persiste andando na ponta dos pés além de dois anos, ou anda na ponta de apenas um pé, o pediatra deverá avaliá-la, pois isto poderá significar algum problema neurológico que necessite de tratamento.

Pés virados para dentro (anteversão femoral)
embarrassingbodieskids.channel4.com
Esta é uma situação que costuma preocupar muito os pais, pois os pés têm uma posição virada para dentro e, algumas vezes, parece até que a criança pode tropeçar ao andar. Esta condição foi motivo para uso de muita bota no passado, prática que hoje foi abandonada.

O que ocorre é uma variação normal na forma como as pernas e os pés se alinham, havendo uma mudança natural entre 8 e 15 meses de idade, quando as crianças começam a ficar em pé. Além disto, com o fortalecimento muscular que vai ocorrendo ao longo do desenvolvimento até a puberdade, esta condição se corrige.

Alguns ortopedistas tendem a recomendar a natação para acelerar a correção desta posição, pois este esporte favorece o fortalecimento da musculatura das pernas e pés. Mas a criança também pode praticar outros esportes, sem restrições.


Pernas em arco (geno varo)
sciencephoto.com

O geno varo é uma condição que pode ser herdada, na qual há um arco exagerado entre as pernas . Em geral, esta condição se corrige por volta de dois anos de idade, sem nenhuma intervenção. Porém, se existe um arco grande na criança maior de dois anos de idade, ou se o arco ocorre apenas em uma das pernas e não nas duas, isto pode significar um problema maior, como o raquitismo. Nesta situação, há falta de vitamina D ou cálcio no organismo, levando a um enfraquecimento ósseo e, como consequência, o geno varo acentuado. Uma vez feito o diagnóstico e tratando-se o problema, o arco se corrige.

Portanto, arco que piora após os dois anos ou arco que se apresenta em uma só perna, necessita avaliação ortopédica.


Joelhos em tesoura (geno valgo)
health-7.com 

As crianças tendem a ter os joelhos em valgo, condição em que, se olhando a criança em pé, observa-se que os joelhos se aproximam. Isto é frequentemente observado entre três e seis anos de idade, quando há uma mudança natural do alinhamento corporal. Aos poucos, sem que haja nenhuma intervenção, as pernas se retificam sozinhas.

Há situações extremas de geno valgo muito acentuado ou situações em que há geno valgo em apenas uma das pernas, em que será necessária a avaliação do ortopedista.






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